terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Relação de bolso

“Uma relação de bolso bem-sucedida é doce e de curta duração. Podemos supor que seja doce porque tem curta duração, e que sua doçura se abrigue precisamente naquela reconfortante consciência de que você não precisa sair do seu caminho nem se desdobrar para mantê-la intacta por um tempo maior. De fato, você não precisa fazer nada para aproveitá-la. Uma ‘relação de bolso’ é a encarnação da instantaneidade e da disponibilidade. Não que o seu relacionamento vá adquirir essas assombrosas qualidades sem que algumas condições tenham sido previamente atendidas. Observe que é você quem deve atendê-las – outro ponto favorável a um relacionamento ‘de bolso’, sem dúvida, já que é você e só você quem está no controle, e nele permanece por toda a curta vida dessa relação. Primeira condição: deve-se entrar no relacionamento plenamente consciente e totalmente sóbrio. Lembre-se: nada de ‘amor à primeira vista’ aqui. Nada de apaixonar-se... Nada daquela súbita torrente de emoções que nos deixa sem fôlego e com o coração aos pulos. Nem as emoções que chamamos de ‘amor’ nem aquelas que sobriamente descrevemos como ‘desejo’. Não se deixe dominar nem arrebatar, e, acima de tudo, não deixe que lhe arranquem das mãos a calculadora. E não se permita tomar o motivo da relação em que você está para entrar por aquilo que ele não é nem deve ser. A conveniência é a única coisa que conta, e isso é algo para uma cabeça fria, não para um coração quente (muito menos superaquecido).
Quanto menor a hipoteca, menos inseguro você vai se sentir quando for exposto às flutuações do mercado imobiliário futuro; quanto menos investir no relacionamento, menos inseguro vai se sentir quando for exposto às flutuações de suas emoções futuras. Segunda condição: mantenha-o do jeito que é. Lembre-se de que não é preciso muito tempo para que a conveniência se converta no seu oposto. Assim, não deixe o relacionamento escapar à supervisão do chefe, não lhe permita desenvolver sua lógica própria e, especialmente, adquirir direitos de propriedade – não deixe que caia do bolso, que é seu lugar. Fique alerta. Não durma no ponto. Observe atentamente até mesmo as menores mudanças naquilo que Jarvie chama de ‘subcorrentes emocionais’ (obviamente, as emoções tendem a se transformar em ‘subcorrentes’ quando deixadas livres das amarras do cálculo). Se notar alguma coisa que você não negociou e para a qual não liga, saiba que ‘é hora de seguir adiante’. É o tráfego que sustenta todo o prazer.
Mantenha o bolso livre e preparado. Logo vai precisar pôr alguma coisa nele e – cruze os dedos – você vai conseguir...”
(BAUMAN, 2004, págs. 18-19)



Voce concorda com a retirada do acesso à Ilha Porchat e construção de uma ponte?